magusto transmontano

Diz a tradição que, para haver São Martinho é preciso lume, castanhas e vinho, o costume dos magustos. Grandes fogueiras ao ar livre – onde familiares e amigos se reúnem para, alegremente, festejarem o dia. Festejos que divergem um pouco consoante as tradições reginais, o mais habitual é assarem-se castanhas ou bolotas para comer, beber jeropiga, água-pé ou vinho novo. É uma festa de castanhas, uma data para inaugurar o novo vinho e atestar as pipas.

Em muitos pontos do país, esta festividade popular é também celebrada com procissões de bêbados de licenciosidade autorizada, parodiando cortejos religiosos em versão báquica, que entram nas adegas, bebem e brincam livremente e são a glorificação das figuras destacadas da bebedice local constituída em burlescas irmandades. Por vezes uma dos homens, outra das mulheres, sendo que em alguns casos a celebração fracciona-se em dois dias: o de S. Martinho para os homens e o de Santa Bebiana para as mulheres (Beira Baixa).

Também brincadeiras e jogos diversos, pessoas enfarruscadas com cinzas ou a cantar cantigas populares, são animações constantes para enriquecer os magustos festejados de acordo com as tradições de cada região. A rainha, essa é sempre a mesma: a castanha!

Outrora de enorme importância na dieta dos portugueses, foi no século XVII um dos produtos básicos da alimentação dos beirões e transmontanos. Não havendo um receituário tradicional com utilização da castanha. O que sabemos da história é a sua utilização como elemento encorpante de sopas e outros cozinhados, depois destronada com a chegada da batata.

As receitas com castanha tem-se inventado, recentemente, e devem continuar-se a inventar, com a devida cautela, porém, de usar o termo estrangeiro “marron glacê” para glorificar um produto tão nosso (a castanha).

Hoje, um dos frutos mais procurados no Outono é ingrediente de muitas receitas, acompanhamento de vários pratos, um final de refeição ou pura e simplesmente “guloseima” de rua para celebrar a época.

Popularmente, as castanhas continuam a ser comidas assadas ou cozidas com erva-doce. Antes de cozinhadas, devem ser retalhadas para não estourar (como têm bastante água quando são aquecidas, água passa a vapor, que aumenta com a pressão “empurrando” a casca, se esta não tiver levado um golpe, a castanha estoura). Diz o povo que: “ao assar as castanhas, as que estouram são as mentiras dos presentes”.

Depois de assada e descascada ou peladas, a castanha toma o nome de bilhós.

Em Mirandela, por exemplo, este acto de golpear a casca da castanha, designa-se por “muchetar as castanhas”, Por associação levar um muchete é levar um apertão com os dois primeiros dedos da mão, geralmente dados por rapazes ou homens atrevidos a raparigas e mulheres néscias e que pode ser o começo de “entradas mais audazes”.

Assar castanhas:
– Molham-se (não tem que ser, mas ajuda a que o sal agarre).
– Dá-se um golpe em cada uma (retalhar).
– Põe-se sal.
– Põe-se um pouco de erva-doce (dá um sabor muito bom).
– Põem-se dentro do fogareiro (ou num tabuleiro no forno, ou no calor de uma fogueira).

Ficam assadas num quarto de hora, aproximadamente.

“A castanha é de quem a come e não de quem a apanha”.

Eis alguns destinos populares onde poderá fazer prova do ditado popular:

Penafiel (Porto, Norte)

A Festa de S. Martinho de Penafiel realiza-se entre 10 e 20 de Novembro. Na feira também há um destaque de peso para a agro-pecuária, nomeadamente gado bovino. Dos “petiscos do costume” obrigatórios nestas datas destacam-se as febras/fêveras e rojões de porco, com arroz de forno e vinho verde da região.

Aldeia Viçosa (Guarda, centro)

Esta celebração do S. Martinho é para quem queira celebrar novamente, ou se atrase, pois só ocorre a 26 de Dezembro. Nesta freguesia realiza-se, desde 1698, o “Magusto da Velha”. Conta a história desta tradição do séc. XVII que uma senhora (já de idade e abastada) deixou à freguesia uma herança; supostamente de 24 escudos e 60 centavos, desde que rezassem por ela anualmente. Assim, assam-se castanhas que são lançadas à população do alto da Torre Sineira da Igreja Matriz.

Marvão (Portalegre, Alentejo)

A Festa do Castanheiro que goza de enorme popularidade. Cerca de 25.000 pessoas costumam encher a vila medieval para comer castanhas, provar o vinho e a ouvir música. Começa a 2 de Novembro até 16 com a Quinzena Gastronómica da Castanha. No decurso desta iniciativa, vários restaurantes do concelho incluem na ementa pratos típicos confeccionados com castanhas.

Esta festa vai contar com mais de dois mil litros de vinho e cinco toneladas de castanhas, que estarão distribuídas por quatro magustos localizados em vários locais da vila raiana. A organização convida os visitantes a participar no «Maior Magusto do Mundo».

 Portimão (Faro, Algarve)

O S. Martinho é o evento mais antigo celebrado em Portimão, festa que remonta a 1662 e hoje tem lugar no Parque de Feiras e Exposições.

A história de S. Martinho

Diz a lenda que Martinho, nascido na Hungria em 316, era um soldado. Era filho de um soldado romano. O seu nome foi-lhe dado em homenagem a Marte, o Deus da Guerra e protector dos soldados. Aos 15 anos vai para Pavia (Itália). Em França abraçou a vida sacerdotal, sendo famoso como pregador. Foi bispo de Tous.

Certo dia de Novembro, muito frio e chuvoso, estando em França ao serviço do Imperador, ia Martinho no seu cavalo a caminho da cidade de Amiens quando, de repente, começou uma terrível tempestade. A certa altura surgiu à beira da estrada um pobre homem a pedir esmola.

Como nada tivesse, Martinho, sem hesitar, pegou na espada e cortou a sua capa de soldado ao meio, dando uma das metades ao pobre para que este se protegesse do frio. Nessa altura a chuva parou e o Sol começou a brilhar, ficando, inexplicavelmente, um tempo quase de Verão.

Daí que esperemos, todos os anos, o Verão de S. Martinho. E a verdade é que S. Martinho raramente nos decepciona. Em sua homenagem, comemoramos o dia 11 Novembro com as primeiras castanhas do ano, acompanhadas de vinho novo. É o Magusto, que faz parte das tradições do nosso país.

Créditos da imagem: Pinterest

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