No início de junho, o centro de Portugal exala o cheiro da cereja. Aqui sabem como cultivá-la corretamente e o que fazer com ela depois. Se tiver oportunidade, visite sem falta um cerejal português. Não um pomarzito ao pé de uma casa de campo, mas uma plantação de grande dimensão. Há muitas nesta zona do país. Os ramos das árvores frondosas pendem devido ao peso das bagas, que são grandes. Uma das variedades é de cor, praticamente, preta, sendo o tamanho como de uma pequena ameixa, ao comê-la é preferível pô-la inteira na boca — de tão sumarenta que é. Se não se salpicar a si, salpicará os que estão debaixo da mesma árvore.
O delicioso fruto é vendido nos supermercados, mas é muito mais interessante comprá-la mesmo junto à estrada: um furgão traz uma centena ou duas de pequenas caixas, e o vistoso fruto desaparece do balcão improvisado num instante. Existem também grandes mercados sazonais, onde se vende apenas cereja e que são chamados assim mesmo — Mercado da Cereja.
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Os portugueses utilizam sábia e variadamente a sua excelente cereja na culinária, em primeiro lugar, na confeção de sobremesas de pastelaria.
Mesmo que por uma casualidade lamentável o seu trajeto pelo Portugal gastronómico não passe pelo Fundão, arranje maneira de dar lá um saltinho nem que seja por uma hora. A localidade é antiga, mas não é grande, não deverá ter mais que uma dezena de milhares de habitantes. Mas é nas suas redondezas que se cultiva a famosa cereja, e onde nas pastelarias da cidade as montras rebentam de produtos temáticos. Pode ter a certeza que são excepcionalmente bons, como por exemplo, os pequenos cestinhos de massa folhada com doce de cereja. E depois de um farto almoço ou jantar, um calicezinho de licor de cereja vem mesmo a calhar. Só que a sua graduação alcoólica pode ser alta, convém verificar previamente.
Em honra do luxuoso fruto, os portugueses organizam com poupa e circunstancia os animados festivais da cereja (Festa da Cereja) com grandes vendas da heroína da festa. Enormes painéis a lembrar mais uma festa estão firmemente plantados nas autoestradas, as detalhadas indicações não o deixarão perder-se. Caso deseje, ainda pode lá ir.

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Anatoly Gendin
Jornalista gastronómico (Food, Wine and Travel). Autor da série de guias gastronómicas “Atlas do Gourmand”

Artigo original aqui.

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